Em matéria publicada pelo Jornal Metro News, o Presidente Nacional da Democracia Cristã e Constituinte, José Maria Eymael fala sobre o cenário político brasileiro e sua plataforma de governo. Confira abaixo a entrevista na íntegra por Eurico Cruz, Raphael Pozzi e Vinícius Bacelar:
O gaúcho José Maria Eymael, conhecido principalmente pelo jingle de campanha “Ey, Ey, Eymael, um democrata cristão”, criado em 1985, chega a disputa de sua quinta eleição presidencial e garante: “somos os únicos capazes de derrotar o PT nas urnas”.
Crente de que o candidato petista Fernando Haddad (PT) herdará os votos do ex-presidente Lula (PT) e estará no segundo turno, Eymael acredita que seu partido, o Democracia Cristã, é prejudicado pela falta de espaço na televisão e no rádio, assim como pela recente reforma eleitoral, “feita para manter quem está no poder”, e que se muitos soubessem de sua história com certeza lhe confiariam o voto.
Segundo Eymael, sua legenda não está nem à esquerda e nem à direita. “A democracia cristã é uma força transformadora”, explicou o democrata. Entre suas principais propostas está a Reforma Tributária, para diminuir a pressão governamental sobre as empresas e colocar o Brasil para surfar nas “ondas do desenvolvimento”.
Eymael foi eleito, em 1986, deputado federal constituinte com 72.132 votos, tendo sido reeleito em 1990 com 34.191 sufrágios. Questionado se está na hora de rever a Constituição, o democrata cristão negou esta possível necessidade. “A Constituição precisa amadurecer, mas é a responsável pelo maior período democrático de nosso País”.
O que faltou para a Democracia Cristã crescer como outros partidos, a exemplo do PT, PSDB e MDB?
Então, hoje, o pouco tempo que nós temos é o grande obstáculo. Com as redes sociais, este problema é um pouco amenizado. Se eu tivesse tempo para falar o que fiz aos trabalhadores: aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, redução da jornada de trabalho de 48 para 44 horas semanais, proteção contra demissão sem justa causa, a estimulação de lazer como promoção social e mecanismos para proteger a mulher no mercado de trabalho…Seria um outro universo. As pessoas me conhecem, mas não conhecem o conteúdo. É uma dificuldade.
E como driblar esta falta de tempo?
Redes sociais. Hoje, a minha fanpage tem participação do Brasil inteiro. Embora não tenha como negar a importância da TV. Tenho feito também a campanha corpo a corpo. Minha agenda está lotada: Brusque (SC), Brasília, Campinas, Cuiabá (MT). Não tem lugar em que eu me sinta melhor do que a rua.
Qual é o principal mote da sua campanha? Qual seria a primeira coisa que faria ao ser eleito?
Primeira coisa: montar um time do presidente. Reduzir 29 ministérios para 15. Não economiza quase nada, mas o presidente, assim, terá um time próximo, com pessoas que conversam diariamente com ele. Também tem que ser feita uma reforma tributária. Este sistema tributário que nós temos, com todas as mexidas que ele sofreu, esmaga as empresas. Tem que ser algo que o empresário entenda. Perde-se muito tempo só para entender o que se paga. O sistema também é muito injusto. Um comerciante da zona leste de São Paulo, por exemplo, recebe uma multa e tem quinze dias para recorrer. Até ele falar com o contador, o prazo já acabou. É preciso ter uma igualdade maior entre contribuinte e fisco.
E quais seriam os critérios para escolher este time do presidente?
Nenhuma indicação de partido político. Se eu me eleger presidente, eu me elejo de forma independente. Vou me eleger pela Democracia Cristã. Chega de indicação de partido político. Nós temos que buscar pessoas que tenham excelência na sua área de trabalho. É isto que tem que ser feito. Temos que conversar, respeitar opiniões diferentes, mas sempre ir para o diálogo preparado. Assim, você sensibiliza as pessoas. Na elaboração da Constituição, falaram que o nosso partido não tinha representatividade e que iríamos nos machucar. No final, fui um dos 15 deputados com mais propostas aprovadas. Sintetizando: o Legislativo legisla e fiscaliza. O Executivo governa. E o Judiciário julga.
O que é preciso fazer na questão da segurança?
Quem foi que propôs a criação do Ministério da Segurança Pública em 2010? Nós. A intenção era integrar as inteligências das forças de segurança do País – municipais, estaduais e federal. Colocar o Exército para fechar as fronteiras. Adotar procedimentos internacionais de sucesso em países desenvolvidos na área de segurança. Agora apresentaram o Ministério da Segurança Pública como se fosse uma novidade em 2018. O que vemos hoje é uma situação em que as polícias não se comunicam e não compartilham informações. Um Estado não está conjugado com os demais. Isso que gera esta insegurança nacional.
E na área da saúde?
Eu falo sempre na “Saúde da Inteligência”. É a saúde da prevenção. Tem que se prevenir, mas, na prática, isto não existe. Por exemplo, a falta de saneamento é uma das grandes causadoras de doenças no Brasil. Só que não se faz nada em termos de saneamento no País.
Qual a sua visão sobre o atentado a Jair Bolsonaro?
Nós tivemos uma posição oficial. É um retrato da insegurança do País. Veja o seguinte. O Bolsonaro estava cercado por 25 agentes da polícia federal. Vai alguém com uma faca e consegue atingir o Bolsonaro. O próprio discurso do Bolsonaro falando que a solução era armar todo mundo não é a solução.
O senhor é contra o armamento então?
Porte de armas seletivo. Que é mais ou menos o sistema que temos hoje. Só que nós temos que fazer que nem o sistema europeu. Você tem o porte de arma seletivo, mas a pessoa que tem periodicamente tem que demonstrar que tem condições de ter uma arma.
Em um segundo turno, quem o senhor apoiaria?
Hoje, o Haddad vai para o segundo turno e eu estou absolutamente convencido disso. E só a democracia cristã pode derrotar o Haddad. Nenhum outro candidato tem condições. O Lula vai transferir os votos. Hoje os jornais já dizem: um terço do eleitorado brasileiro já aceita votar em alguém indicado pelo Lula. Mesmo só com 9% ele já vence o Bolsonaro no segundo turno.
Por que?
Porque nós somos as conquistas sociais dos trabalhadores. O partido com a totalidade dos avanços sociais na Constituição, todos os avanços sociais dos trabalhadores presentes na Constituição são da Democracia Cristã. Num segundo turno, o tempo de TV é igual, não são mais os oitos segundo que nós temos.
E se o senhor não chegar no segundo turno, apoiaria outro candidato?
Se eu te responder esta pergunta eu já estaria aceitando não ir para o segundo turno (risos).
Quais estatais você manteria e quais você privatizaria?
Eu mantenho Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, por uma questão de segurança nacional. As demais eu ia fazer uma análise da vantagem de continuar com elas ou não.
Como o senhor trataria a questão dos refugiados venezuelanos?
Tem que acolhê-los e fazer uma distribuição dentro do território nacional. Mas o Brasil não pode ficar indiferente à situação da Venezuela, que é um regime ditatorial. No governo do PT houve uma certa condescendência. O Temer poderia ter um certo posicionamento.
Qual sua posição sobre a Reforma Trabalhista?
Em termos gerais eu acho que houve um avanço. Dando um pouco mais de liberdade na relação entre patrão e empregado. O que eu acho que foi um erro foi o corte abrupto do imposto sindical, sem uma transição, sem dar uma chance para os sindicatos se adequarem e criarem novas fontes de receita. O estrago já está feito. Tem que fazer um amplo debate nacional para ver como os sindicatos vão se manter.
É preciso fazer a Reforma da Previdência?
Tem que fazer. O problema fundamental é o período de vida mais longo. A previdência foi calculada com base em um período mais curto. Tem que ter uma elevação na idade mínima e tem que ter uma transição inteligente. A Previdência está quebrada. Tem que ter reforma, mas também tem que cobrar quem está devendo.
Como o senhor avalia os resultados do último impeachment?
Olha os dois anos do Temer. Tinha que ter sido mais transparente o sistema de impeachment. Uma análise realmente, uma comprovação de desvio. Aquilo foi carta marcada com o vice-presidente tramando para tomar o lugar da presidente. Nós defendíamos, em 2016, a convocação de novas eleições. A coisa foi alongando, o TSE acabou não julgando, com o MDB articulado para tomar conta do governo.
Foi um golpe então?
Foi indecente.
O que o senhor pretende fazer para gerar emprego?
Emprego é fruto do desenvolvimento. Tem algumas medidas que podem ser tomadas. Uma delas, eu coloquei que o ICMS pode ser seletivo, menor, para os produtos mais necessários, como no caso dos genéricos, em São Paulo. A cesta básica da constituição poderia ter este critério. O setor que mais reage é a construção civil. Ter uma redução no ICMS da Construção Civil poderia ser um avanço. Outra questão é a seguinte. Hoje tem financiamento, a pessoa tem que ter 20% para comprar o imóvel. Ela não compra. Se ela tivesse 100% de financiamento ela passaria a ter este financiamento e pagaria um valor inferior ao que paga de aluguel. O risco para os bancos é zero porque tem a garantia do imóvel.
Mas hoje os juros são elevadíssimos. A parcela ainda fica, muitas vezes, muito mais alta o que o aluguel. Como resolver isto?
Aí você entra em uma outra área. A falta de renda não pode representar a falta de moradia. Isto é básico, é fundamental. Hoje, se você não tem renda, você não tem moradia. Este é um problema de gestão pública.
Fonte: https://metronews.com.br/nacional/somos-os-unicos-capazes-de-derrotar-o-pt-diz-eymael